Esse é um post onde espero expressar minha visão e preocupação com o presente e futuro da educação dos nossos filhos. Talvez tenha continuação. A construção do pensamento vem da minha experiência prática com meu filho, Betinho, de quase três anos somada às situações que vejo no dia a dia. Por fim, mas não menos importante, meu jeito de ser pai também é fortemente influenciado por toda literatura disponível hoje em dia em torno da educação infantil.
Um primeiro ponto que considero importante, e preocupante, é o fato da sociedade apostar que a escola é o agente de transformação das nossas crianças. O tempo inteiro educação é confundido com escola. A escola deveria ser o complemento da visão dos pais sobre a educação, não o contrário. Não acho que deveríamos fazer em casa o que a escola manda e sim achar um lugar que compartilhe de valores, que nos faça refletir e expandir nossos horizontes. Essa frase é velha, mas continua atual, educação vem de casa. E aqui não estou falando de bons modos, estou falando da mentalidade da criança e futuro adulto sobre os comportamentos que devem ser valorizados.
Ainda sobre a relação da escola e educação, existe o fato de muitas famílias, independente do motivo, não terem como passar muitas horas com seus filhos durante o dia e aí entra o processo de delegar o cuidado para escolas, creches e cuidadores em geral. A ciência mostra que o tipo de cuidador meio que não interfere nas habilidades da criança quando ela chega a idade de um ano e meio para frente. Agora a qualidade interfere demais. Se você está meio que delegando essa parte da vida do seu filho, procure pessoas/lugares que realmente compartilhem da sua visão de mundo e que apliquem isso no dia a dia. Os comportamentos que presencio me passam a impressão que é muito melhor você deixar seu filho(a) na escola infantil por 8/12 horas do que deixar na mão de um cuidador(a) dentro de casa. Claro, se achar um lugar com qualidade.
Um outro ponto que considero super importante e que o livro O Pequeno Príncipe já decifrou faz tempo é: os adultos são chatos e as crianças são demais. O que quero dizer? Que, infelizmente, estamos fazendo com que nossas crianças pensem cada vez mais dentro de uma caixa e pior, elas são punidas se pensam diferente. Aqui, de novo, entra a confusão entre quem é o guia da educação. Se a família delegou a responsabilidade para a escola, é meio que natural que ela acredite que a escola está fazendo o melhor para seu filho. Dado essa linha, ela tende a reforçar os comportamentos pedidos pelos professores, diretores etc.
As escolas do primário ao ensino médio de hoje em dia, falando de Brasil, na sua maioria, viraram uma indústria de preparação para o vestibular. A criança, está lá com 7 anos e já está pensando nisso. Estou desconsiderando escolas infantis que tem apostila e já trazem esse discurso, não tem nem o que comentar. O esforço e criatividade são escanteados, o que vale é nota boa. Nem sempre esforço e resultado andam juntos, não é nada estranho você se esforçar, estudar e dominar um assunto, mas na hora da prova seu resultado não ser o esperado. Só que nessa hora, muitas vezes, o julgamento precoce vem a tona. Os pais julgam que o filho não estudou e a escola, para complementar, manda aquele boletim com notas baixas e sem nenhuma mísera explicação. O contexto não define suas ações, mas ele ajuda. Se você percebe que o resultado é importante e é isso que faz você ter uma vida melhor, não é complicado entender porque tantas pessoas colam/pescam nas provas. E depois usam o mesmo approach em outros momentos da vida.
Medir performance unicamente pelo resultado é uma das piores coisas que você pode fazer, no seu trabalho, na escola ou em qualquer lugar. Tudo bem não tirar o resultado da equação, mas existem muitos outros fatores. Alguns exemplos:
- Seu filho pode não ter ido bem na prova, mas ajudou vários colegas no assunto e eles foram bem. Isso não deveria contar?
- Seu filho teve participação ativa nas aulas, perguntando para os professores e buscando entender exatamente o que estava sendo ensinado. Isso não deveria contar?
- Seu filho se esforçou e tentou fazer todos os exercícios que foram passados. Isso não deveria contar?
- Seu filho precisava de 4 horas para responder a prova, mas a escola limitou em 2. Isso não deveria contar?
Estamos na vida para colher experiências, acertar, falhar, colaborar, entender os outros etc. A escola vem, recorrentemente, ensinando que só o acerto é recompensado e que você deve se adaptar, fazer parte do meio ou não está destinado a uma vida de glória. Não é a toa que temos cada vez mais depressão infantil, força de trabalho menos capaz, cheia de medo de perder seu emprego e completamente conservadora na hora de arriscar algo.
Ainda tenho coisa para falar, mas entendo que até aqui já tem texto suficiente para gerar debate e reflexão. Estou longe de ter a fórmula do sucesso para criar uma criança que, na perspectiva dela, vai ter uma vida feliz e de sucesso. Mas está cada vez mais claro o que você não deveria fazer. E a primeira é refletir muito sobre a escola que você vai deixar seu filho, ela realmente pode fazer mais mal do que você imagina.